Por Mauro Santaynaa
Católicos ou não, cristãos ou não, somos
chamados a crer na esperança, que o papa Francisco nos traz, com seu discurso
renovador.
A Igreja, como instituição, pode até mesmo
encarnar as palavras de seu Chefe como forma de recuperar o seu poder
profético, abalado pelas vicissitudes conhecidas. Mas a Humanidade, em seu
instinto de permanência, deverá acatá-las como outra oportunidade de renovar a
eterna aliança entre os homens e o Absoluto.
O que o Papa vem dizendo em público – e ele
falou de forma descontraída com os jornalistas, enquanto voava rumo ao Rio – é
simples. O hedonismo, o amor ao dinheiro e ao lucro, o desperdício, estão
sepultando a História.
Ao perder seu passado, o homem perde o seu
futuro.
Há, em nosso tempo, e com a dissolução da
família, o desprezo pelos jovens e pelos velhos. Os robôs, como se sabe,
substituem os moços, nos processos industriais que produzem para o descarte e o
desperdício. Os velhos são vistos como trastes imprestáveis, que necessitam de
cuidados caros.
Mas, conforme o Papa, de sua experiência e
saber depende a sobrevivência de todos.
A situação é ainda mais grave do que em 1962,
quando se reuniu o Concílio do Vaticano II, convocado pelo Cardeal Roncalli. O
novo pontífice substituía Pio XII, acusado de haver sido protetor de Hitler em
seu tempo de arcebispo de Munique – ao contrário de seu antecessor, Pio XI, que
mandou apagar as luzes do Vaticano na noite em que o ditador alemão pernoitou
em Roma.
Roncalli era um homem de fé e simples em sua
vida pessoal – um traço em comum com o argentino Bergoglio – disposto a
restaurar alguns princípios cristãos, abandonados pela Igreja ao longo dos
séculos. Infelizmente, a sua influência, ainda que poderosa, sobre o Concílio,
durou pouco.
Tendo aberto o encontro em 11 de junho,
morreu menos de um ano depois, em 3 de junho do ano seguinte.
É interessante cotejar a pregação do
Pontífice com as declarações do presidente do Banco Mundial, o sul-coreano Jim
Jong Kim, que defende, com veemência, a globalização neoliberal e os cortes nos
orçamentos sociais dos Estados. Isso, ao mesmo tempo em que a Security and Exchange
Comission norte-americana
autoriza os bancos a comprar, estocar e vender mercadorias como o alumínio, o
cobre, o ouro e outros metais.
Os bancos passam, assim, a exercer o
monopólio mundial dos metais, ditando os preços ao seu arbítrio.
Já podemos prever o destino do mundo, se não
ouvirmos a mensagem cristã, que Francisco reafirma nessa sua viagem ao Brasil,
depois de haver visitado o porto de Lampedusa, porta de entrada, na Europa, dos
flagelados pela miséria na África, que chegam em botes frágeis. O Papa
deixou claro, ali, que não há fronteiras diante do direito à vida.
Reagir, enquanto é tempo, e em todos os
lugares do mundo, é a única forma de salvar a espécie.
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